terça-feira, 29 de agosto de 2017

O Mundo da Carolina #4

Todos passamos por fases em que o rol de acontecimentos indesejados nos faz acreditar que não pode piorar. E claro que pode! A tendência é olhar sempre para o menos bom e pensamentos negativos atraem coisas negativas. Além disso, o melodrama corre-me no sangue! 😅

Mas, no meio do caos, acontecem coisas magníficas para nos lembrar que, afinal, está tudo bem!

Ela [cobre-me as bochechas com as mãozinhas mais delicadas do mundo, olha-me nos olhos e depois de um silêncio, sussurra com a voz mais meiga do universo]: 'Mãe, és tão bonita!'
Eu [incrédula com o que tinha acabado de ouvir]: 'O quê filha?!? A mãe é bonita?'
Ela [com um ar decidido]: 'Xim, és munto bonita!'
Eu: 'Obrigada meu amor. Tu também és muito linda!'
Ela [vaidosa, mas a fingir-se indiferente]: 'Bigada mãe!' 

Eu falei em fases más?!? Ou em momentos perfeitos? 💝

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Conta-me Hi(E)stórias #5

💗
Um dia, sentaram-se, no sofá, lado a lado e não tinham assunto.
[Foi só um dia de trabalho cansativo em que estamos exaustos].
No dia seguinte, em que mal se viram, ela deitou-se e adormeceu. Ele ficou em silêncio, noutra divisão, a fazer zapping na TV e a rever, pela enésima vez, as novidades das redes sociais.
[Oh, é só uma fase menos boa, com preocupações acrescidas e decisões importantes a tomar].

E assim se passaram anos, volvidos nestas desculpas e justificações. Perdidos na correria do dia-a-dia e no vazio do silêncio que ficava quando os filhos dormiam. Os filhos... que eram, agora, a única fonte de vida. Como se, enquanto casal, tivessem deixado de existir. Como se fosse tudo dado como adquirido. Como se não houvesse necessidade de contrariar o que acabaria por ser inevitável. Como se tivessem de se conformar, porque 'acontece a todos'! 

Não, não acontece. Só a quem permite. A quem não se importa. A quem não quer. Porque quando não se quer, arranjam-se desculpas; quando se quer muito, arranja-se maneira!

Durante muito tempo, a velha frase 'ah e tal que um filho muda tudo' ecoava, vinda de bocas distintas. Efetivamente, fazia-lhe alguma confusão a percentagem de divórcios depois dos filhos. Mas, a verdade é que isso só acontecia aos outros! Não perceberam, portanto, o malabarismo inerente à árdua tarefa de fazer um relacionamento saudável sobreviver à reviravolta que as suas vidas levaria.

As mudanças bruscas de rotinas, a falta de tempo, o cansaço, as hormonas, os silêncios em que cada um mergulhou, a falta de diálogo, as discórdias, a falta de paciência... estavam a começar a deixar marcas irreversíveis. Das mãos dadas, dos sorrisos fáceis e apaixonados, dos jantares a dois, das férias... havia só memória. Quando eram necessários planos. Que ficavam sempre para segundo plano!
Os anos foram passando e eles tinham-se esquecido do caminho que tinham percorrido até ali. Das técnicas de conquista, das maluquices feitas no auge de uma paixão arrebatadora, dos elogios, dos afetos... isentos de um papel de 'pai' e 'mãe'. Eram dois estranhos, agora. Emboídos em ataques, críticas, comparações, queixumes. 

Um dia, resolveram refletir sobre esta estranhesa que se havia instaurado nesta relação. Perceberam que:
- há muito que não se elogiavam mutuamente. Havia críticas permanentes, causadas sobretudo por discórdias relativas à forma de educar os filhos. Pela falta de trabalho em equipa. Pela falta de espírito de sacrifício para as alterações que são precisas fazer. 
- falta de diálogo. As reações eram 'a quente'. Em vez de falar e trocar opiniões, discutiam. Mediam forças, para ver quem 'levava a taça'. Apontavam dedos.
- Ciúme. Ele, por não saber lidar muito bem com esta nova versão da sua esposa enquanto mãe e porque, nos primeiros tempos, esta tinha, quase inevitavelmente, uma relação muito mais próxima com os filhos e ele ficara sem saber qual a sua posição. Ela, porque sentia que precisava, mais que nunca, de ser elogiada, valorizada e considerada a melhor mãe do mundo. O orgulho que os homens têm pelas mães e que o demonstram, tem de ser canalisado também para a esposa, sobretudo depois desta ser mãe.
- Falta de tempo. Para cada um individualmente e para os dois. A mulher é, infelizmente, muito mais penalizada a este nível, no que respeita ao tempo para si mesma. E é normal que sinta muito mais necessidade de sair das rotinas do dia-a-dia. Ele nunca refletira sobre isso. E, enquanto casal, perderam-se. Deixaram de atribuir importância aos desejos um do outro. O mau-humor, gerado muitas vezes por noites mal dormidas, acabava inevitavelmente em discussões. Esqueceram-se de cuidar emocionalmente um do outro. 

Tudo junto, gerara uma série de conflitos interiores que criaram uma barreira que os impedia de olhar da mesma maneira um para o outro. É difícil engolir sapos, ignorar o orgulho, relativizar reações. Sobretudo se for unilateral. Esqueceram-se que quem ama, cuida. Quem gosta, fica. Quem quer, luta. Quem se importa, demonstra. E percebe quando o outro não está feliz.

No dia seguinte, voltaram a sentar-se no sofá, lado a lado, olharam-se e questionaram: 'Ainda me amas?'
Não respondam. Mostrem. Provem. As palavras não são suficientes. 💗

terça-feira, 22 de agosto de 2017

O Mundo da Carolina #3

Eu: Carolina, ajuda a mãe que já estamos atrasadas. Enfia aqui a manga da camisola.
Ela [com pronúncia do norte e o ar mais indignado do mundo]: oh mãe, eu xou pacanina!

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O Mundo do pai da Carolina #1

Pois que o senhor meu marido, que por acaso também é pai da Carolina, ontem de manhã teve de ficar em casa sozinho com ela. Dei-lhe o pequeno-almoço (à minha filha, entenda-se!) e deixei o almoço preparado e a roupa pronta caso quisessem sair.
Chego a casa à hora de almoço e ele começa a contar-me como correu a manhã, muito orgulhoso do facto de ela se ter portado muito bem e terem estado tranquilos e felizes.
Ele: Fomos passear.
Eu: Ah, sim? Vestiste-lhe a roupinha sem stress?
Ele: Oh pah, eu olhei para ela, pareceu-me bem, tão fresquinha,... levei-a assim...
Eu [incrédula]: Tu levaste a miúda à rua de PIJAMA??? 
Ele [com uma naturalidade irritante]: Sim, ia tão bem... tão fresquinha. Aquilo nem se notava que era pijama. 
Eu [sem saber se ria ou chorava]: Nadaaaaa, não se nota nadinha que é pijama. Duas peças da Primark (nada contra, ok?), herdadas da filha de uma amiga e, consequentemente, tudo já coçado.
Ele: Oh, tu é que és paranóica. Lá estás tu. Foi muito bem. Aliás, toda a gente se metia com ela e ninguém disse que ela ia de pijama!
Eu [a fuzilá-lo com o olhar e a tentar auto-convencer-me de que a vergonha foi dele]: Claro que ninguém disse nada. Dahhhh. Isto é como andares na rua com o fecho das calças aberto. Toda a gente se ri e comenta, mas ninguém te diz diretamente.
Ele [intransigente, com a maior razão do mundo]: És dramática. Foi tão bem...

Agora percebo, minha filha, o drama na hora de ficar com o pai. Desculpa, eu sei que tens uma reputação a manter e o teu pai arrisca-se a causar-te um trauma estético para o resto da vida. 😥😥

Cá está o modelito e digam-me de vossa justiça, por favor:



quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Conta-me Hi(E)stórias #4

Há dias...

... em que apetece falar, mas tens medo que as palavras firam ao serem proferidas no calor da mágoa.
... em que apetece ir, mesmo sabendo que vais querer voltar.
... em que a cabeça está demasiado desarrumada e desalinhada em ideias que não sabes se são fruto do cansaço ou de pensamentos já amadurecidos.
... em que queres dar (muito), mas depois pensas que se calhar o melhor é guardar para ti o que vais oferecer a quem não retribui.
... em que és tão objetiva e transparente e mesmo assim há quem não consiga entender.
... em que o cansaço acumulado te faz querer dar dois gritos e cinco murros na mesa (ou noutra coisa qualquer, mas a mesa parece-te o mais seguro!)
... em que pensas que 'amanhã é que vai ser' e depois olhas para trás e foi-se o presente durante essa espera.

E, no meio da confusão, acreditas que alguém entenderá as tuas necessidades e te fará sentir especial. Uma vez. [Devia ser sempre. Para sempre]. Afinal, o amor é isto. É ter vontade de ver quem amamos feliz. Se não for isto, não é amor. É outra coisa qualquer. É dar jeito... É ser útil... E sentires que não és mais do que isso, é a maior inutilidade da vida.

Danem-se as expetativas, as carências e a ansiedade que são fod****. Há dias... em que percebes que a felicidade está, tão só e apenas, dentro de ti. 

É isto, minha filha. 

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

23 meses de ti (de nós!)...

Sim, no próximo mês são dois anos, mas vou passar esse bla, bla, bla à frente que toda a gente já sabe que o tempo passa a correr!
Com 23 meses:
- Tens dupla personalidade. Quem te vê em público, quietinha, sossegadinha, doce, amorosa, bem-comportada, não imagina no que te transformas em casa. São birras do arco da velha. Gritos histéricos. Cerrar os punhos e fazer tanta força até transpirar. A obcessão pela 'pépé' (vulgarmente conhecida por chupeta!!). A mania das bolachas dos dinossauros - não podem ser outras! 
- As noites continuam a ser boas, mas o processo de adormecer deixou de ser tranquilo. Chamas por nós umas quinhentas vezes antes de conseguires dormir. E para quê? Pois bem, diz que tens comichão nos pés! Sempre. Todos os dias. Só à hora de ir para a cama. Já te expliquei que tens mãozinhas para coçar. Mas dizes que temos de ser nós. Se é o pai que vai ao quarto, dizes que queres dar um beijinho à mãe. Se é a mãe, invertes e queres um beijinho do pai. Quando nenhuma das estratégias resulta, pedes água. Se não vamos, gritas: 'tenho tanta sede!' Alguém me explica onde é que estas criaturas vão buscar tamanha inteligência?
- Já comeste melhor. O leite de manhã não te sabe igual. A sopa é comida sob pressão. Para seres feliz, comias todos os dias massa com salsichas!
- Queres fazer tudo sozinha, numa autonomia que chega a enervar mentes menos pacientes como a tua mãe! E o que te irritas quando as coisas não correm como queres?
- No meio de tudo, és uma ternura. Dás um beijinhos apaixonantes, uns abracinhos maravilhosos, tens umas saídas extraordinárias e um olhar doce. Mas um feitiozinho... tão pai!!! [ahah]
-És ciumenta, tagarela, desenrascada e mimalha.
E, se há dias em que me apetece rifar-te, a maioria dos dias apetece-me engolir-te para poder absorver cada segundo teu. 
Amo-te daqui até à lua [digo-te regularmente e tu ris-te!]. Um dia espero que percebas que isso seja muito mais do que consigo expressar e que o sorriso seja por acreditares neste amor. 💖💝

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Deixa-te de merdas...

... assim, cruamente! Com alguma falta de moderação! Porque há alturas na vida em que precisamos de dar recados a nós próprios! Mesmo que essas informações sejam senso-comum!
Deixa-te de tretas e vive. 
Apetece-te ir passar o fim-de-semana fora... vai!
Apetece-te viajar, primeiro aos Açores, depois a Itália, a seguir à Tailândia (não necessariamente por esta ordem de prioridades!)... viaja!
Apetece-te gritar, discordar, dizer exatamente o que pensas... grita, discorda, diz!
Apetece-te beijar, abraçar forte, chorar... beija, abraça, chora!
Apetece-te uma fatia de cheesecake... come (mesmo que depois tenhas de fazer 500 abdominais ou as calças não te passarem nas ancas!)
Apetece-te trocar de emprego... troca!
Apetece-te mandar as lides domésticas às urtigas e aproveitar mais tempo em família... aproveita!
Apetece-te registar todos os pequenos momentos... fotografa!

Pensamos que temos todo o tempo do mundo numa vida toda pela frente e a vida, às vezes, mostra-nos que não tem mais tempo para nos dar. 
O recado fica dado, minha filha. A ti. E a mim. Que passo mais tempo a planear do que a agir. E fico tão frustrada com isso. Tenho sonhos tão pequeninos e tão facilmente concretizáveis e fico sempre à espera que os outros cheguem ao mesmo objetivo que eu: que se dane o trabalho, o dinheiro, a preguiça. Eu quero é viver. Construir memórias. E tenho feito tão pouco por isso. 
Ouviste miúda? Tu vive! Afinal, nunca sabemos quando é que nos aterra uma avioneta em cima, no síto errado, à hora errada! E aí, meu amor, de nada vale o que sonhaste!

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Da simplicidade da vida...

Ontem na creche. Chegámos e o Manel aos berros, porque queria a mãe. Carolina, alerta, diz-me mal entrámos na porta: 'O Manhele tá a xolále'. Sai disparada, corre na direção dele, dá-lhe um abraço e um beijinho e susurra-lhe: 'Num xóla Manhele, a Caolina tá aqui, olha, olha!'

Oh pah, o meu coração ficou ali. Com eles. Pequenino e inchado. De ternura. De orgulho. De amor.
Só queria, meu amor, que a vida fosse generosa contigo e que acreditasses sempre que um abraço e um beijo pode confortar. Que acreditasses sempre que o poder de transformar uma lágrima num sorriso está nas nossas mãos. Na nossa vontade de querermos ser e fazer os outros felizes!
Amo-te mais que muito. Não por seres minha filha (também, claro que sim!), mas por seres esta menina doce e adorável. Querida e meiga. Preocupada e atenta. Feliz.