quinta-feira, 19 de julho de 2018

Dos castigos...

A Carolina sabe que, sempre que se porta mal, tem uma punição, que implica ficar sem alguma coisa que ela goste muito. Eu e o pai fazemos um esforço (e o difícil que é) para cumprir a consequência sem vacilar. Custa horrores. Estes dias chorei o jantar todo (sem ela ver, óbvio), porque não aguentava os olhinhos de carneirinho mal morto dela. É que ainda por cima, se esperneasse, refilasse, desafiasse... mas não, é orgulhosa o suficiente para acatar um castigo como consequência sem pestanejar, com um ar altivo, do género: 'estou-me a marimbar, sou muito superior a isso. Queres castigar, castiga!'

No fim-de-semana fez birra para dormir a sesta. Estava morta de sono, mas a lutar contra ele. Tinhamos dito que íamos à praia quando acordasse. Ansiosa, não queria dormir. Fez trinta por uma linha. Até me levar ao limite. Disse-lhe: 'Acabou, não há praia para ninguém!' Nem um ai... continuou na vidinha dela, calma e serena. Só que nós precisávamos mesmo de lá ir. Então, passado uma meia-hora, digo-lhe: 'Siga, vestir. Vamos embora!'
[Ela]: 'Ondi vamos?'
[Eu]: 'Vamos à praia!'
[Ela, olha para mim, franze o sobrolho e interroga num ar de incompreensão]: 'Mas eu potei mal... puque vamos na mesma à praia?'

(Toma lá que já almoçaste!) 😓😕😬

terça-feira, 17 de julho de 2018

A ternura de aceitação como mana mais velha!

[Ela]: 'Mãe, eu já xou crexida! Já xei xubir e descer as escadas xozinha!'
[Eu]: 'Boa filha, estás mesmo crescida! Tenho tanto orgulho em ti!'
[Ela]: 'É que agola, o mano é que vai pexizar de ajuda. E eu já poxo ajudá-lo!'


[Ela - depois de ter pedido para levar a bicicleta para a avó]: 'Oh manhe, eu num quelia deixar a chiqueleta na avó...'
[Eu]: 'Então porquê? Tens mais espaço lá, depois sempre que formos a casa da avó podes andar!'
[Ela, muito triste e pensativa]: 'Pois, mas axim o meu mano num vai poder andále de chiqueleta, puque ela num tá aqui na noxa casa!'

💝 

terça-feira, 10 de julho de 2018

Familia real!

Eu, a falar ao telemóvel.
Ela - pergunta da praxe: 'Quem era?'
Controlei o impulso de lhe responder 'hás-de ter muito a ver com isso' 😅 e disse-lhe: 'É o pai!'
Ela, olha-me com o ar mais ternurento do mundo e suspira: 'O noxo pinxipe!' 💖

E, pronto, somos nós. Uma família em que todos têm direito a títulos de nobreza!


segunda-feira, 2 de julho de 2018

Carta à minha (ainda) filha única...

Meu amor,

tens dado mostras de ciúmes a surgir. Há dias em que acho que são filmes da minha cabeça, que ainda és muito pequenina para perceber o que se está a passar. Mas, na maior parte das vezes, os sinais são tão evidentes... birras infindáveis, choros desconsoláveis, um mimo inexplicável... E eu vejo-me na obrigação de impor limites, de te chamar a atenção, de te castigar... num dualismo difícil de gerir por não querer cair no erro de te fazer sentir que te estou a preterir.

E isto anda a estilhaçar-me o coração...

Não te posso exigir que sejas crescida, quando ainda és tão bebé! Quero muito que sintas que ser a irmã mais velha será um privilégio e não um fardo! Quero que saibas que podes ser também bebé (porque na realidade o és) e querer colo, beijos, abraços e mimos. E vou desejar que os meus braços estiquem para dois (ou três, porque o papá também não merece ficar de fora)... só que sinto que, por muito que o colo se multiplique, haverá dias em que terá de se dividir!

E isto anda a remoer-me as entranhas...

Vamos deixar de ser só os três. E, entre nós, deixaremos de ser só as duas. O pai transmite, desde sempre, o receio de não saber como vai amar outro filho como te ama a ti. Eu nunca tive esse medo. Acho que amaremos cada um dos nossos filhos à sua maneira, com determinadas particularidades, mas com a mesma intensidade. O meu medo é outro. Tenho medo que, por seres tão pequenina, sintas que te estou a trair. Que existe um outro alguém a competir por um lugar que te pertence há três anos. Que não compreendas porque te vou abandonar nos dias em que estiver na maternidade ou quando reclamares atenção nos momentos em que sentires que há alguém a 'roubar' o teu colo. E, nestas alturas, eu duvido da elasticidade e enormidade do coração de mãe.

E isto dilacera-me o peito...

Mas sabes, minha amorinha, que te amo daqui até à lua e da lua até aqui. Que és o meu primeiro amor maior. Que foste tu que me fizeste mãe.
Talvez nunca tenhas memórias deste tempo em que foste filha única. Mas nós temos. Sabemos que durante estes anos em que o foste, te inundamos de amor. E que foram perfeitos. Abriste caminho para nos ensinar a ser pais. E tenho a certeza que, um dia, te vais orgulhar da mana mais velha em que te vais tornar! Quero acreditar (porque isso ajuda nos dias de maior fragilidade) que o melhor está para chegar! E desculpa-me, minha rapiuquita, quando eu falhar e não tiver a sabedoria suficiente para ser 'mãe de dois'.

Txi amo 💖 E isso aquece-me o coração...