sexta-feira, 15 de março de 2019

Não me morras, filho! #1

[texto escrito a 25/10/2018 - depois de ter feito ecografia morfológica do 3º trimestre]

Sou uma pessoa, por norma, muito positiva! Nunca acredito que algo possa correr mal, sendo que, se por um lado, esta forma de estar me permite relaxar e aproveitar a vida; por outro, nunca dá espaço para que eu esteja preparada para o pior.

Mas há um dia... 
...em que vamos (eu e o pai da criança) todos entusiasmados fazer a ecografia do terceiro trimestre. Com uma gravidez super tranquila até então, as nossas conversas, pelo caminho, oscilam entre o desejo de ouvir o coraçãozinho e as minhas gargalhadas pela necessidade de tira-teimas por parte do pai de que seria mesmo um menino! Ninguém vai com receio a uma ecografia às 32 semanas, se tudo tiver estado bem até então!
Entro, deito-me na marquesa, começa a ecografia:
'Ora então, o vosso bebé está de cabeça para baixo...' E segue-se um silêncio incómodo. E movimentações anormais. A médica sai, vai chamar a colega que tinha feito a ecografia do 2º trimestre, comparam resultados... Liga para um médico neurologista...
O meu marido foi o primeiro a perceber que algo se passava (talvez por conseguir ver a cara delas): 'Está tudo bem?'
[Sem resposta. O silêncio continuava assustador-constrangedor]
Depois, comecei a sentir-me mal e perguntei eu: 'Diga-me que está tudo bem!' Senti-me a apagar.
Desta vez tivemos resposta, mas não a desejada: 'Não lhe posso dizer isso. Eu já falo com vocês!'
Tivemos a certeza. Algo não estava bem. E era grave. As lágrimas caiam-nos sem autorização e eu comecei a desfalecer. Mais correrias. Copos de água com açúcar e um aparelho que não conseguiu medir-me a tensão, de tão baixa que estava. Só apitava.
Estabilizaram, primeiro, o meu sistema nervoso. Depois, o diagnóstico:
'O vosso filho tem uma malformação (potencial tumor) numa zona assustadora do cérebro.'
Parte de nós morreu ali. Nunca ninguém nos prepara para isto. 
'Não vos consigo adiantar muito mais. É uma zona delicada, pela inacessibilidade. O quisto é pequeno. Isto são situações raríssimas. O espectro do que pode acontecer oscila entre o "nada" e o "tudo". E só teremos real percepção das implicações neurológicas ou motoras que isto poderá ter assim que o bebé nascer. Para já, vamos marcar duas ressonâncias magnéticas fetais com urgência, para conseguirmos resultados mais precisos.'
Uma hora depois de termos entrado no consultório, saímos. Em lágrimas, embrulhados um no outro, alheios aos olhares empáticos da quantidade de pessoas que se acumulou na sala de espera. 

Recuso-me a aceitar que algo de mau possa acontecer. Entreguei nas mãos de Deus e tenho a certeza que Ele não me falhará. Para já, tenho a firme convicção de que nada na vida acontece por acaso. Tinha de ser assim e haveremos de perceber porquê. 
Sei, apenas, meu filho, que ainda não nasceste e já és um guerreiro, já estás a dar luta! E, nesta batalha da vida, sairás, de certeza, vencedor! Amo-te tanto. Amamos-te tanto. Eu, o pai e a mana já não sabemos viver sem ti. Por isso, nunca nos morras, filho, por favor! 

[...]


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