sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Conta-me Hi(E)stórias#1

Dou por inaugurada uma nova rubrica! Sobre temas comuns. Com que muitos se identificam. Sobre coisas que leio. Que nascem de conversas com mães, pais, casais normais!

"A vinda de um filho muda muito a vida do casal!"
Que cliché!... Mas, à medida que o tempo avança, percebemos que as frases feitas existem por algum motivo! E fazem sentido!
Lembro-me de ser miúda (ingénua) e achar que, quando construísse uma família, ia ser um conto de fadas. E é! Só que as histórias têm todas um enredo!
Antes (sim, há um antes e um depois!):
não havia horários. Trabalhávamos sem hora de entrada e de saída e sem preocupações com horários de funcionamento de creches. Havia dois seres autónomos que viviam um para o outro. Que faziam amor a uma hora qualquer, em qualquer lugar. Que podiam levantar-se às duas da tarde e explorar um qualquer brunch. Que marcavam programas e viagens de improviso. Que tinham tempo. Para mandar mensagens sem motivo. Comprar (ou colher) uma flor só para lembrar que se comemoram meses/anos de namoro/casamento. Havia o fogo de uma paixão avassaladora. Tinha-se medo de perder. Não se dava nada como adquirido e, por isso, faziam-se esforços. Mais esforços. Haviam planos e sonhos. 
Depois esses planos ganham um nome. Deixa-se (ou troca-se) o emprego, porque se definem outras prioridades e precisam-se de novos estímulos e desafios. Há anos sem férias. Acorda-se às 7:30 da manhã.O cansaço é maior e as horas de sexo desenfreado são trocadas por sonos profundos. Os fins-de-semana são passados, rotineiramente, a dormir ou a mexer no telemóvel, no sofá de casa dos pais ou dos sogros, enquanto se espera que o tempo passe. Há horários e rotinas que não se quer quebrar, sob pena de 'se mexer, estraga'! O tempo deixa de ser a dois e passa a ter de ser organizado a três. E o amor, apesar de se multiplicar, também tem de se dividir! E passamos a enredar-nos, muitas vezes, numa teia complexa. Discutem-se tarefas que não são divididas equitativamente. Cobra-se tempo de antena e atenção. Deixa-se de ter o mesmo tempo para namorar e relembrar datas importantes para os dois, mas lembra-se sempre, religiosamente, o dia em que o terceiro elemento da casa faz meses de vida. Prendemo-nos a uma obrigatoriedade instaurada de rotinas e visitas à família. Esquecemo-nos de falar sobre as nossas qualidades, de relembrar momentos a dois e de fazer novos planos. Passa-se muito tempo em silêncio (mesmo que o tempo que se passe junto já seja pouco!) e não se estimula a proximidade de outrora, porque nos perdemos a falar dos novos feitos da nova criatura que nasceu entre nós! E, às vezes, quando finalmente há tempo, parece que há um vazio.
E, no entanto, no meio do turbilhão, todos dizem o mesmo. Que esta é a vida que sempre sonharam! E que é o conto de fadas que vai ter um final feliz. Porque, um dia, esta fase esquisita (carregadinha de sentimentos contraditórios) vai passar e seremos novamente dois a precisar tanto um do outro!

Por tudo isto, quero pedir-te desculpa. Pelas vezes em que me esqueço de dizer que gosto de ti. Que te amo acima de tudo. Porque há um coração a bater fora do meu peito que passou a ocupar o mesmo espaço que tu, mas isso não é desculpa. Só que, quando chegas, eu já lhe disse mil vezes o que te deveria ter dito a ti. E fico em silêncio, ignorando que vocês os dois são duas pessoas diferentes. Talvez seja isso que acontece contigo também. Pelo menos é nisso que eu acredito. Que as flores que deixaram de chegar, os abraços que foram sendo menos recorrentes, os minutos que são passados a olhar para um ecrã de telemóvel, com gestos monótonos e padronizados, as horas que ficas em silêncio... é o resultado do tempo que dedicas a outro amor.
Mas, apesar deste amor gigante e avassalador que passou a existir no meio do nosso, quero que te lembres sempre (quando te esqueceres, vens aqui e lês, que é para isso que escrevo!) que tu foste a minha primeira e única escolha. Casei com o único homem com quem namorei e por quem me apaixonei, certa de que seria para toda a minha vida. Porque acreditaste sempre em mim, mais do que eu própria. Me limpaste muitas lágrimas, quando elas teimavam em cair. Dizes sempre que sou lindíssima sem maquilhagem, mesmo quando me sinto o Shrek. És a única pessoa no mundo a quem me dou a conhecer de forma transparente e sem medos e que me encoraja, todos os dias, a ser mais do que aquilo que eu acho que consigo ser.

Um dia esta fase vai passar. Esta fase em que a vida nos desafia a querer ser dois, sem deixar de ser três. E, numa altura em que seremos certamente muitos, voltaremos a ser só dois novamente!

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