quinta-feira, 6 de abril de 2017

Eu era uma mãe perfeita...

... até ter filhos!
Quantas vezes, ingenuamente, comentei: 'Se fosse minha filha, não fazia estas cenas!' ou 'Que miúdo rebelde, se fosse comigo andava na linha!'
Já me auto-mutilei e já pedi, ainda que retoricamente, desculpa a essas dezenas de mães que, estupidamente, critiquei, às vezes apenas com o olhar. Sabia lá eu o que era educar... Sabia lá eu a dificuldade que isto ia ser... A quantidade de vezes que iria questionar se estava a fazer a coisa certa... Sabia lá eu que, afinal, há uma grande parte da coisa que depende de nós, mas outra tanta que não conseguimos controlar.
Não sei se os tão badalados 'terrible two' existem mesmo. Mas sei que, sem que eu percebesse bem como, cá em casa a anjinha transformou-se em diabinho. Mais: consegue, no mesmo minuto, estar a apertar-me as bochechas, toda fofinha, a encher-me de beijos e abraços e, segundos depois, fazer uma birra descomunal. E eu, que gosto de ter tudo sob controlo e questiono até o inquestionável, tenho-me sentido perdida!
Alguém me explica como é que uma criatura com menos de um metro deixou de saber ouvir um 'não'? Ela esperneia, cerra a testa e arqueia o sobrolho, amua e faz umas trombas aterradoras, atira-se para o meio do chão, berra, atira tudo para o chão, bate, agride-se... sempre que é contrariada. No outro dia, foi no meio do aeroporto [que vergonha!], só porque queria ir sozinha e não me queria dar a mão! Really?

E eu, a antiga mãe perfeita:
- já lhe bati. Eu, que abomino qualquer tipo de punição física, porque acho que há outras formas de educar.
- já gritei. Eu, que prometi ter sempre calma, falar com um tom de voz sereno e conversar de forma pedagógica com ela.
- já a mandei para a cama de estômago vazio. Porque, se não come a sopa, então não come mais nada. Eu, que achei que aquela criatura ia comer sempre bem, sem grandes fitas.
- já repeti demasiadas vezes a mesma ordem, para ver se ela perdia aquela surdez seletiva. Eu, que sei tão bem que só se deve falar uma vez. Repetir descredibiliza. 

Eu, a antiga mãe perfeita, já fiz, em tão pouco tempo, tanta coisa de que me arrependi, que questionei, que problematizei, que já me fez chorar, pensar, redefinir formas de atuar. Orgulho-me, apenas, de ter o bom senso de olhar para dentro de mim e saber analisar. Conseguir perceber que está errado, para tentar melhorar.

Já não tenho certezas absolutas. Deixei de as ter no dia em que ela nasceu. Não vou mais, filha, continuar a tentar ser a mãe perfeita. Vou só continuar a tentar ser a melhor mãe que conseguir. Para que, um dia, possas reconhecer que tentei, sempre, dar o meu melhor. É o que todas as mães fazem!



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