sábado, 16 de julho de 2016

Filha, há um "eu" que não quero que herdes!

Sou fraca... clara e assumidamente fraca. Sinceramente fraca. Emocionalmente fraca. 
E assumir isto é terrível, porque eu sei que toda a gente gosta de explorar as nossas fraquezas. Regozijam quando percebem que podem aproveitar-se do nosso lado mais vulnerável. Mas eu não tenho medos e, por isso, falo abertamente sobre isso. Sou ingenuamente transparente, infantilmente sincera. O meu único medo é o de não ter quem me ame! Ridículo, não é?
Sou especialmente carente, exageradamente sensível, com uma necessidade brutal de ser notada, elogiada, de ser permanentemente mimada. Gosto de me sentir especial. 
Não sejamos hipócritas. Eu sei o que valho, sei que sou boa profissional, dedicada, muito responsável e trabalhadora, boa esposa e dona de casa e sei que me esforço para ser uma excelente mãe. Sei que faço tudo o que devo e, até, o que não devo só para agradar. E isso é uma bomba-relógio! Porque um dia fartámos-nos de ter de provar todos os dias aos outros o que valemos... e sentimos que nunca é suficiente...e as expetativas do que esperamos receber de volta saem todas defraudadas. Ajo, a maior parte das vezes, para que gostem de mim, para que me dêem atenção, para implorar carinho. Mas porque sou efetivamente feliz assim, não saberia viver de outra forma. Mas, cansa. Porque é impossível recebermos dos outros aquilo que ambicionamos. Criamos sempre expetativas irreais, inalcançáveis. Porque as outras pessoas fazem o que está correto: pensam primeiro em si. Fazem aquilo que lhes dá na real gana para serem felizes. Mesmo que magoe os outros. Não se preocupam, nem são suficientemente altruístas para pensarem primeiro no outro e no que faria o outro feliz!
Quem me conhece sabe que eu sempre quis ter muitos filhos. E, agora que me conheço a cada dia melhor, reconheço que esse é o meu maior ato de egoísmo! De amor, sim. Mas, sobretudo, de egoísmo! Porque a minha filha (e o/os outro/os filhos que gostaria de ter) são a minha única esperança. De sentir que nunca deixarei de ser amada... ou de ser amada incondicionalmente! E até aqui é uma esperança ridícula! Porque ela pode, efetivamente, deixar de gostar de mim. Mas é aqui que entram de novo as expetativas: enquanto ela é assim, um ser minúsculo, dependente de mim, eu acredito que vai ser ela que me vai dizer que sou a melhor super-mãe, a mais bonita, a mais especial, a que cozinha melhor, a que lava melhor a roupa, a que passa melhor a ferro. E gostava que dissesse o mesmo sobre o pai, que não haverá mais nenhum homem no mundo como ele! Mas, presta atenção, minha filha, nunca digas isso a um namorado, a um amigo, a um marido... porque lhe vai doer! Porque cada um de nós quer ser o melhor, o mais especial! E, se amares muito essa pessoa, fá-la sentir isso! Que é a mais especial de todas. Vais fazê-la feliz! Sobretudo se ela for emocionalmente instável... emocionalmente fraca!
Os filhos que eu gostava de ter são o meu refúgio, o protótipo de amor que idealizei! Ter a minha filha nos meus braços, apertá-la e enchê-la de beijos, exibi-la... é a única forma de mostrar que existo, que sou boa mãe, boa pessoa... sem ter de provar nada a ninguém. Porque vê-se a criança saudável, desenvolvida e feliz que ela é! 
Mas tudo isto é egoísmo. É fraqueza. É ciúmes. Mas é, também sinceridade. E, por isso, é que não tenho medo de o dizer. Devemos admitir, minha filha.
Mas esta é a parte da minha personalidade que não quero que herdes. Serias feliz na mesma (porque eu sou), mas nunca tão feliz como o teu pai! E, por isso, desejo que, tal como ele, tenhas uma personalidade forte, uma vida desprendida, menos sentimental e uma auto-estima inabalável. Desejo que te valhas a ti própria sem precisares do mundo. Que não precises das palavras dos outros para te elogiares. Que percebas que o mundo à tua volta pode nunca te provar, mas que serás sempre especial! E o teu pai certamente fará muito bem o trabalho de te educar nesse sentido!


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